quinta-feira, 5 de julho de 2012

Tavares - Mariana Machado





Lembra quando as coisas começaram a se tornar o que são hoje? A gente mal tinha ideia do que já tinha feito e tão pouco de tudo que ainda iria acontecer.
Naquela noite você não havia voltado e eu aproveitei pra chorar. Nunca consegui fazer isso na sua frente, me faltava forças.
No dia seguinte, ao levantar vi resquícios da sua passagem. Só resquícios. Você ainda estava me evitando e entendi o recado. Talvez fosse melhor assim, pensei. Fui beber algo, meio que para me acalmar, escolhi água mesmo, era mais fácil. Mas a água desceu difícil pela minha garganta, parecia tão pesada. Estava tão difícil de engoli-la, e também o choro, os soluços, as lágrimas...

Nem me preocupei em tomar banho, só queria sair daquela casa. Troquei de roupa sem nem saber que peça estava usando – só puxei a primeira calça e a primeira blusa que vi – prendi meu cabelo mais do que rapidamente e agarrei a bolsa. Sai sem nem me permitir olhar o computador, o telefone ou o celular. Bati a porta baixinho pro barulho não me denunciar, como se eu tivesse medo que você pudesse ouvir e interpretasse o desespero dos meus atos.
Por tantas vezes o final nos parecia eminente, não é mesmo? E nelas todas demos a volta por cima.

A semana passou rápido, havia muito transito, muito o que ler, estudar, trabalhos a fazer. E nem deu tempo de pensar em ti. Obvio que não havia te procurado e comecei a me preocupar com as minhas escolhas. Você também não tinha vindo atrás. E ao procurar seu perfil, aflita, notei que sua vida seguia, como se você não tivesse perdido nada e nem ninguém. Sua risada ecoava na página, as brincadeiras – agora com outras pessoas – permaneciam ali. Eu não fazia diferença ou falta.
O nervoso me dominou, a única coisa que me restava fazer era aceitar. Minha válvula de escape foi sentar num barzinho bem nojento e beber quantas eu consegui. E depois fumar todos os cigarros que eu havia te prometido não fumar. E então mais tarde – já em casa – tomar todos os remédios que eu não podia tomar, como você odiava que eu fizesse, com medo que eu morresse de overdose.
Não morri, como todas as outras vezes, mas no dia seguinte minha cabeça rodava e só de respirar eu sentia vontade de por minha alma pra fora. Graças a Deus era sábado. Passei o dia na cama, não comi nada, tomei água forçada. Liguei o computador só pra poder ouvir aquelas músicas do Esteban (Ou Abril) que eu tanto gostava de ouvir quando tudo estava ruim.


Quando começou a tocar ‘Sua canção’, meus olhos se encheram de lágrimas. Jurei a mim mesma que as conteria, mas foi em vão, quando a frase ‘Vou esperar por você em todo lugar, mesmo sabendo que não vai voltar’ se fez presente no meu ouvido. Desabei ali. Num choro tão forte e tão amplo que fiquei sem forças. Achei que seria melhor mudar de música, e começou a tocar ‘Mundo’. Senti minha garganta fechar, não queria ouvir as estrofes que viriam em seguida. Quando a voz do Tavares pronunciou ‘E quando penso em tudo que eu perdi por não dizer o que eu queria’ senti em minha alma que havia perdido você, por não ter te dito tudo aquilo que estava preso em mim. Desliguei o som, mas o silêncio me agoniou. Troquei a música e pus o som de volta, estava bem na parte do ‘E quando for voltar me diga quando vai chegar. E quando for partir esqueça de se despedir. Eu só não queria dizer adeus..’


Cheguei à conclusão de que qualquer música que eu colocasse me faria pensar em ti de alguma forma, mesmo que não fosse do Rodrigo Tavares. Até no nome do artista você estava, faça-me o favor.


Fechei o computador, desliguei as luzes, baixei a cortina. Resolvi ficar ali, trancadinha – não necessariamente no meu quarto, mas dentro de mim mesma, dentro da alma – na espera do final de toda a nossa história.

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