domingo, 23 de maio de 2010
Amanhecer de um quarto escuro - Mariana Machado
Agora estou sozinha e infeliz. Mas há muito tempo atrás, quando a ignorancia me possuía eu fui feliz. E você estava aqui.
O quarto frio e escuro não me intimida.
Na realidade dá um tom poético que me agrada. Mas saber que tu existe que já não me quer,
consome meu corpo em chamas. E pensar em morrer sem lhe ver o rosto uma vez mais, ironicamente me mata aos poucos.
Meu consolo é saber que, mesmo não estando comigo e mesmo longe de mim, você irá sempre se lembrar de nos dois.
E que quando a noticia da minha morte chegar ao teu ouvido, você saberá que é tua culpa.
E nada irá te exorcizar e cada vez mais tu lembrarás de mim.
Agora já não falta muito. A respiração teima em falhar. O coração teima em não bater e o sangue teima em não circular.
A morte sorrateira tira aos poucos, minha força, minha saúde e meus poucos bons órgãos. Mas a memória continua intacta.
Seu rosto sempre teve esse contorno tão bonito, como a minha mente revela agora?
Já não importa mais nada. A derradeira hora chega. A derrota é iminente.
Guardo então teu último retrato, tua melhor imagem, por de trás de minhas palpebras.
No meu último minuto, no meu último suspiro e na minha última aparição.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário