"Hoje me perguntaram quem sou.
Fiquei a fitar aquela pessoa, aquela que me conhecia há tantos anos e que eu achava que me conhecia melhor que ninguem.
Seus olhos clamavam pela resposta. Mas eu não podia dar.
Nunca havia dado essa resposta para mim mesma, como seria capaz de da-la para outra pessoa? Mesmo que ela fosse uma continuação do meu coração. Mesmo se ela me forçasse a viver.
Sentia o suor escorrer pela minha testa. Estava achando aquilo muito dificil. Como negar uma resposta a ele?
- Quem é você? É uma pergunta tão fácil.
- É até mais dificil do que responder "O que serei".
Ele não sabia, mas eu não tinha essa resposta. Ou talvez tivesse e não queria admitir. Minha mente vagava em cada lembrança, em cada lágrima ou cada sorriso. E nada que pudesse me dizer quem eu era, foi encontrado.
Eu era vaga, invisivel e inexistente.
- Então me digas quem você será.
- Eu serei a simples lembrança de algo que não existiu. A brisa batendo no seu rosto. O calor crescente no seu peito. Eu serei a lágrima gelada caindo de seus olhos quentes. Eu serei o passado apagado, o futuro incerto. Serei tudo e serei nada. Serei algo que um dia você nem há de se lembrar mais.
- Por que?
A resposta estava na ponta da língua agora. Como havia ficado fácil! Eu só precisava aceitar quem seria, e realmente havia aceitado meu trágico fim de ser esquecida, antes mesmo de ser lembrada e então pude me contemplar. Mas meu auto-contemplamento não duraria muito. Logo as lembranças se apagariam da mente dele e ele merecia um pouco de realidade também. Minha cabeça maquinava um jeito rápido e indolor de lhe contar.
- Por que? Por que eu nada sou, meu amor. Por que eu nunca existi e o inexistente se apaga, antes mesmo de se criar.
Me vi caindo de seus olhos, molhando seu rosto e sumindo aos poucos.
- Tente não esquecer no que me transformarei, amor. E então poderas sempre voltar pra mim. Pra essa lembraça surreal, que você criou pro teu próprio conforto, e hoje lhe traz dor por não ser real.
Eu havia sumido. Minha imagem já não estava mais lá. Eu havia descoberto quem era. Mas isso era mesmo necessario? Eu continuaria sofrendo, sabendo ou não. Já ele não aguentaria.
Não aguentaria saber que havia me criado em sua imaginação para poder viver um grande amor e que ao descobrir que não existo presenciou uma grande dor.
Ele não aguentaria saber que aquela foi a última vez que nos vimos. Por que a imaginação que me criou, em poucos minutos também em aniquilaria."
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