sexta-feira, 29 de julho de 2011

Leila - Mariana Machado

- Primeira Semana






A casa ainda tinha seu cheiro, lavanda se não me engano.
A mesa arrumada, as flores no vaso, exalavam o próprio perfume em contraste com o teu.
Teu vestido de cetim esquecido na lavanderia, sinal fraco da sua existencia.
A cama desfeita, me dava um sentido de liberdade. Na cozinha, inércia total, era meu jeito e eu estava há habitar o mundo.
Depois a comida estragada começou a dominar o cheiro da casa, seu perfume havia sumido, suas flores, morrido. E o odor que regia demonstrava o que havia de vir naquela casa.
As coisas começaram a fazer falta, outras a se acumular.
Onde ficava tal objeto? Nunca hei de saber.
Mas tua falta era simples e a casa ainda seguia seu rumo.


- Semanas Depois






No quarto, a cama não feita, teu lado imaculado, começava a ficar sombrio. No escritório da casa, a lixeira já totalmente repleta, transbordava meus erros pelo chão.
A sala de jantar ainda continha a ultima mesa posta, o prato em branco, o guardanapo no chão, sinal de minha ira há três dias atrás. A cozinha era insuportável, restos pelo balcão, a pia atravessada de louça, a geladeira já quase vazia.
Na sala de estar os vestígios da minha dor: garrafas de whisky jogadas pelo chão, todas vazias.
Ao entrar na casa, todo dia, via tua imagem ao arrumar minha bagunça. Mas quando acordava no dia seguinte, tudo estava ainda pior.
As roupas sujas se acumulavam e eu cansado, já as repetia. Na lavanderia, ainda estava teu vestido de cetim, agora só trapos, feitos pelas minhas mãos.
A casa era uma bagunça. Tua falta a deixava assim.
A casa clama, volte para nós.

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