Havia muitas pessoas morrendo. Muitas pessoas boas. E eu já estava ficando cansado de escrever seus nomes em meu livro, notificando sua morte. Eu nunca fui nada além de um garotinho doente que esperava sua vez chegar, mas só consegui assistir a todos que conhecia ir morrendo. E nenhuma daquelas pessoas merecia morrer.
Às vezes, na minha bondade ingênua de criança, achava que era tudo culpa minha. Eu era o doente. Doente desde que nasci, doente até morrer. Não eram eles que deviam morrer e sim eu. Mas era neles que os sete palmos de terra caiam e eu só podia achar que de alguma forma, a culpa era minha.
Mas foi quando ele morreu que tudo perdeu o sentido. Ele só tinha nove anos, um há mais que eu. E era meu melhor e único amigo. Se a culpa era minha pela sua morte, então eu não merecia viver. Ou talvez viver fosse meu maior castigo.
Saí de mim naquela tarde para entrar nele e nunca mais sair de lá. Até hoje acho que minha alma ainda se encontra em seu tumulo, seja lá onde ele esteja, já que eu nunca pude sair desse quarto, nunca pude ir lá homenageá-lo.
Tentei, de diversas formas, por vários anos, sabotar o resto de saúde que me restava. Mas acho que esse meu dom só servia para os outros, pois não consegui me matar, mesmo tendo matado tantos – todos que amava.
Sempre preso a morte, por essa doença maldita. Sempre preso a vida por tantas mortes cometidas. Vi os anos passarem sozinho, encarcerado nesse quarto, cumprindo minha pena. Deus deu-me anos pelas vidas que tirei. Anos que não agüento mais. Que a próxima morte cometida então seja, finalmente, a minha.
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