sexta-feira, 30 de abril de 2010

#2 - Mariana Machado


Já não havia mais necessidade em minha voz. Na realidade já não havia mais voz em minha garganta, e enquanto eu pensava no que fazer para que a voz dele não se perdesse em minha mente, percebi que como a minha voz em minha garganta, em algum momento, a voz dele desapareceria da minha cabeça.

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Eu ainda tinha a ridicula idéia que ele apareceria novamente pela minha janela. Invadindo meu quarto e cantarolando para mim, aquela cantiga de ninar, que ele havia composto para mim, há tantos séculos atrás.
Por que era isso que eu sentia: que haviam se passado séculos.
Eu me tornara fria e inutilizável e não me referia somente ao físico.
Eu realmente necessitava dele, mas no fundo do meu peito esburacado, por sua partida, eu sabia, mais do que sabia, que ele nunca mais voltaria.
E sabia também que os séculos que viriam seriam mais frios ainda do que o meu próprio corpo.

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Ele estava distante, mais que o normal. Aquela situação me deixava mal.
Eu tinha vontade de vê-lo partir às vezes e nunca queria perdê-lo.
E quando eu finalmente o perdi, eu perdi a mim também...
Era como se ele tivesse ido e por causa disso eu tivesse morrido.
Ele era minha razão e agora eu já não há tinha.
Deixei o tempo passar e com isso deixei de viver...

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Eu não esperava muito dele, tinha que ser sincera.
E de certa forma ele me pegara desprevenida...
O que ocorreu não estava em meus planos, eu nunca poderia imaginar que seria possível criar uma cumplicidade tão grande com alguém.
E no fundo, muito bem enterrado eu sabia que a cumplicidade que tinha com ele era inigualável, como nossa relação em síntese.
Daquele que eu nada esperava, obtive aquilo que há muito almejava e sabia que nunca mais ia obter.

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