Águas Desertas - Mariana Machado

De tão pouco tempo, há tanta conquista.

Mas não queria conquistar-me e tão pouco eu me entregar a ti.

Mas teu encanto fez-se presente, a cada dia, a cada verso, a cada minuto do seu simples ser.

Mas não podia ainda permitir-me amar-te.

E fui levada embora por outras águas, para cada vez mais longe de ti.

Remei, nadei e escutei teu chamado.

Logo quando estava longe me chamava para perto de ti.

E aquela água, que me parecia tão branda, tão minha, tão eterna, sumiu, foi secando.

E eu retornei para ti.

E teu encanto fez-se presente, novamente. A cada dia, a cada verso, a cada minuto do seu simples ser.

Mas não podia ainda permitir-me amar-te.

Na realidade, creio eu, que tu nunca seria capaz de dar-me esta permissão.

Mas fez presente aos meus ouvidos belas palavras, para constatar aparentes belos sentimentos.

Que hoje nada parecem além de pura farsa.

Hoje, que me sinto deserta e vazia. E que neste momento minhas mãos, que cá escrevem esses versos, tremem, tal qual meu corpo. Nesse momento em que me sinto tão tola por ter dito, pensado e sonhado.

Neste momento em que suas palavras não se fazem presente, nem seu ser, nem seu encantamento.

Nesse momento em que você traiu minha confiança. Nesse momento em que meu corpo se divide em vários fragmentos inconstantes. Ora dor, ora decepção. Ora sagacidade, ora melancolia. Raiva, ou alegria. Um sorriso, ou uma lágrima.

Mas não hei de prolongar tais inconstâncias. Auto tortura não me convém mais como antes. Nem com mais ninguém do que já não tenha sido feita.

É hora de saber sair, de saber andar, de saber voar e voltar pro lar.

Hora de simplesmente chorar baixinho, dentro do quarto escuro e limpar a alma de todo o desejo, da fantasia, de tudo que almejo e me deixar vazia.

E me deixar sozinha.

Até que um novo encanto se faça presente, uma nova gélida maresia me acorde de madrugada, e que a areia áspera do deserto me faça lembrar que errei, mas que nisso, já não erro mais.