Vivia de eternas recordações inexistentes: a parede repleta de fotos, uma caixa cheia de bilhetes. A caixa de entrada do email cheia de mensagens. Essa era a sua vida, relembrar o que nunca foi, mas parecia ser.
Era tudo uma fantasia dela, uma maldade de outrem. Ou até pena.
Isso fazia parecer o hoje mais infeliz. Mas a solidão que hoje ela tem é a mesma que tinha há uns anos atrás. A única diferença é a transparência em que se encontra.
A mesma falta de felicidade, apatia, sensibilidade, dor, que tinha há uns anos atrás, ela tem hoje, mas não conseguia aceitar.
Ia cada vez mais rápido pro fundo do poço. Tentando se agarrar em velhas fotografias e papeis manchados pelo tempo. E estava cada vez mais difícil de construir um castelo com recordações falsas. Afinal toda a fortaleza poderia desmanchar com um sopro, ou uma descarga de realidade.
Seu futuro era incerto, assim como seu passado. Mas uma coisa era visível, só quando retirasse as fotos da parede, se livrasse da caixa de bilhetes e apagasse todas as mensagens é que conseguiria ver as verdadeiras recordações que ali ficaram todo esse tempo. E então conseguiria compreender que o que a segurou ali não foram as falsas memórias, mas sim as verdadeiras recordações escondidas, de pessoas que realmente a amaram.
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