sábado, 26 de novembro de 2011

Ano Novo - Mariana Machado



Ano novo. Eu te liguei, mas só depois da meia noite e depois do teor alcoólico chegar ao máximo. Você disse que me amava, apesar de. Você ainda tava namorando a “adoçante”, como eu chamava a tua namorada com as minhas amigas.
A gente tinha voltado a se falar, e você só me procurava quando seu namoro estava realmente ruim. Eu meio que me sentia sua amante. Vocês discutiam, e meu nome ia pro seu sub “Preciso falar com você, ao entrar chama!”.
Reclamava todas suas insatisfações comigo, e eu fingia não me afetar, te mandava ter paciência, não desistir, não achar desculpas esfarrapadas, mandava você parar de ter medo e não fugir. Mas sonhava secretamente com o dia que notasse que eu era a certa e ninguém além. Você só vinha atrás quando precisava esvaziar a cabeça, eu era a outra, a que te dava minutos secretos de prazer. Mesmo não sendo os prazeres convencionais que as amantes dão.
Ai você terminou com ela, íamos sair. Não saímos por um imprevisto meu. Você acabou saindo sozinho sem mim e a encontrou. Voltaram. Não éramos pra ser.
Terminaram pouco depois. Insultos, cobranças, ela jogando tudo na sua cara. Você não agüentou e ela te machucou demais. Fui seu suporte, como sempre. Afinal eu sempre desempenhei esse papel.
Tu voltou a sair e beber bastante, algumas vezes por semana. Pegava algumas mulheres por festa. E eu fingia que isso também não me afetava.
Mas era comigo que passava os domingos caseiros: seja pela cam, ou no telefone, trocando sms, ou alinhados, assistindo um filmezinho capenga no cinema, que só por muito te amar eu deixava que escolhesse. Eu sempre saia da sessão achando que o que fazia valer as minhas quase 10 pratas era o fato de estar do seu lado, mas ficava quieta, e ia contigo praquele restaurante de camarões, que desde então eu nunca mais me aventurei entrar – só aquela vez que fomos ao shopping e você teve de ir dormir pra acordar pra aula e minha avó estava lá jantando e tive de encontrá-la lá.
Fiz uma pasta no celular com o teu nome só pra guardar as mensagens que me mandava. Na verdade só as minhas favoritas.
Quando te vi no aquecimento, meus olhos brilharam. Todos viram, até aquele rapaz que você disse que estava dando em cima de mim comentou que fiquei radiante quando você chegou. Ele até desistiu tamanha a ligação entre nós. Achei-te o maior Sex Appeal com aquela roupa social.
Isso foi em julho. Tudo ia bem, bem demais até. Se não fosse pela falta de envolvimento físico, seriamos o casal perfeito. Bastava-me sermos só um casal. Hoje me bastava sermos só próximos de novo.
Oito de agosto tu me dissestes que eu era tua família, por que havia sido a única a sempre estar contigo. Se não te amasse, teria me conquistado naquele dia. 
Lembro do dia 14, pouco depois do aniversário da minha mãe, foi fatal. Tu sumiste, veio com um papo de adultério, não engoli. Continuou cada vez mais sumido, foi sumindo em mim, no meu cotidiano. Mas minhas lágrimas te lembraram todos os dias.
Agora já é novembro. Quase dezembro. Você está de volta, mas mais distante do que quando te conheci e sequer me dava espaço. Pelo menos eu te fazia rir naquele tempo com todas aquelas pornografias sem sentido por causa do chat.
Lembro quando você ligou pro meu celular pela primeira vez, só por que eu disse estar imaginando a sua voz. Chamei-te de locutor de rádio. Lembro do teu abraço. Lembro de sempre olhar pra trás quando entrava no táxi pra ir embora e ficava vendo você ir para o ponto e pensava em como era sortuda.
Lembro de ser acordada com suas mensagens quando estava bêbado e de como sinto falta disso.
Queria que me desse espaço. Queria que me contasse do teu trabalho novo, dos teus planos futuros. Que me levasse pra ver um filme horrível no cinema. Que me acordasse de madrugada. Que me colocasse no seu sub, só para eu saber que ainda tenho meu lugar nessa tua vida de porcelana. Tão frágil e tão mutável.
Queria que falasse que me ama novamente, nem sei bem quando foi a ultima vez que o disse. Mas sei que faz falta ouvir, ou ler. 
Acho que vou me embebedar de novo nesse ano novo, vou esperar dar meia noite e vou te ligar. Vou te desejar um puta dois mil e doze. Vou fingir que isso não me afeta. Como tenho feito esse tempo todo. Ai, não sei se por causa da saudade, ou da bebida – ou quem sabe os dois juntos – vou falar alguma coisa bem clichê, bem sentimental e vou tocar você. Vou pedir pra você me dar abertura, bem como eu fiz, quando te conheci e você só me adicionou em pvt por que queria ver se eu era mesmo ninfomaníaca. Eu te ganhei aos poucos. Fui ganhando pedacinhos seus, como se jogasse war com a sua cabeça, disputando você mesmo.
Não vejo à hora de chegar o ano novo. Quem sabe te pedir de volta como presente de natal. Sei lá, já tem tempo que eu não sei de nada.
Eu só sei que vou encher a cara e te ligar. Quem sabe – se alguém sabe algo – não é o que a gente precisa? Bebidas, festas comemorativas, telefonemas. Família. Eu e você. Até por que não tem família mais sincera do que nos dois.

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