segunda-feira, 19 de março de 2012

Carta a um homem que já não está mais aqui - Mariana Machado



Você chegou de uma forma estranha - na verdade eu te fiz chegar de uma forma estranha.
Tudo aconteceu muito descompromissado, conversas avulsas para preencher o tempo. Mas se eu te falar que lá mesmo, quando eu estava viajando, eu já sabia que ia me envolver contigo, você acreditaria? Era fácil perceber a necessidade que um sentia do outro, estava estampado em cada frase que escrevíamos, e como bem me conheço, sabia que, sendo seu propósito ou não, eu acabaria querendo você do meu lado.
Numa noite de segunda-feira, foi no carnaval, eu admiti que estava afim. Você já sabia, mas queria ler com todas as letras. Eu estava com ciúmes de ti antes disso, você estava com uma guria. Ela escolheu como você faria a sua barba. Naquela noite você me disse que também estava afim. Deixei o ciúme de lado, afinal era recíproco. Mas no dia seguinte você estava namorando. Aproveitei uma promessa que havia feito e me isolei de tudo, todos, do mundo, inclusive de você. Mais de uma semana sem te procurar ou responder. Você não estava namorando, era tudo pra fazer ciúmes a sua ex. De qualquer forma isso era bem ruim, por que só mostrava como a sua ex ainda era bem importante.
A história da balsa me consumiu e por isso quando ele me agarrou naquele bar - eu admito - fiquei feliz. Estávamos empatados. E você reagiu de uma forma muito agressiva, enquanto eu só reagi com a dor.
Daquele dia em diante brigas e mais brigas foram nosso mastro. Todas elas idiotas, acho que isso que nos desintegrou.
Mas eu nunca nasci pra viver em algo de dois pesos e duas medidas, e se tinha algo que eu não conseguia admirar em você, era esse teu machismo-hipocrita, que sempre me colocava com o sujeito-mal da sua oração.  
Quando eu cheguei a casa ontem - meio bêbada - e entrei achando que você estaria ali, sabe-se lá por que com uma necessidade mais que incomum de ter você e não te encontrei. Você não estava. Te deixei mensagens vergonhosas no chat, sms carentes e sem um contexto real. De respostas recebi o silencio. A vontade falou mais alto – muito mais alto - e eu te liguei. Estourei meus créditos e também meus bônus, mas pelo menos ouvi sua voz, te trouxe um pouco mais pra perto de mim. E por uma madrugada eu achei que você seria finalmente meu. Doce ilusão.
Hoje, mesmo repleta de trabalhos pra fazer, acabei deixando o chat e o MSN abertos, no fim das contas passei o dia todo esperando por você e nada de você chegar. No final dele, quando você finalmente apareceu, terminamo-lo com uma briga. O motivo? Ontem você havia ficado com alguém, e deixou isso bem claro, ao esconder isso de mim. E assim, se deu a minha saga de chutar os paus das barracas, falei tudo, despejei um texto quilométrico e se ainda restava algo, eu o exterminei.
Você ainda veio com aquele papinho mela-cueca de “Você gosta de mim, eu gosto de você, brigamos todos os dias, sentimos falta um do outro sempre, mas isso nunca vai pra frente, sinto que estamos sempre no mesmo lugar e estou tentando me desprender de você..’
Te juro que li isso com lágrimas nos olhos. Não sou tão forte assim quanto aparento ser, sabia? Jurei que ia te ajudar. Traduzindo, que ia sumir, pra que você pudesse se desprender como queria. Mas eu odeio isso. Odeio esses finais mal acabados, esses amores mal vividos, esses sentimentos e vontades reprimidas. Odeio ter que aparecer invisível, ou te apagar dos meus contatos. Odeio escutar meu celular tocando e implorar pra que não seja nada seu, pra que eu não caia na tentação. Odeio o fato de que ouvi tantas musicas pensando em ti, li tantos textos lembrando de você, gastei tanto tempo imaginando como seria estar contigo e saber que tudo isso foi em vão. Odeio recordar que gastei preciosas lágrimas – muitas vezes ocultas – por que brigamos, ou por que você foi indiferente, ou grosso, ou por que alguma doida te tascou um beijo numa balsa lotada. Nem me faça falar das noites que não dormi por sua causa. Prefiro começar a esquecer dessas coisas agora pra não remoer tanto, não me chamar de idiota tantas vezes.
Você sabe, eu jurei que nunca brincaria com seus sentimentos. Mesmo você tendo brincando com os meus, você nunca me fez nenhuma jura, nunca se envolveu perigosamente comigo. Pelo menos de forma realista. E eu gosto de cumprir as minhas promessas, manter a minha palavra, e como te jurei, não brincarei com seus sentimentos, muito menos tentarei fazer deles a coisa mais importante pra mim.
Da mesma forma estranha que você entrou na minha vida, está saindo. A única diferença é que quando entrou, riamos dos peitos. Agora, o meu dói.



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